Os irmãos toureiros: Gina e Samuel. Rua São Paulo, início da déc. 1940 |
A organização do espetáculo começava pela chegada dos participantes, a montagem do cercado, com chiringa e tudo, e a seleção dos animais. À divulgação do evento os toureiros desfilavam pelas ruas da cidade, em seus trajes coloridos e vistosos, acompanhados da banda e da criançada. Nas antigas touradas havia também as montarias em bois e burros chucros – (jamais poderiam imaginar o sucesso dos atuais rodeios!), uma façanha que agradava os assistentes.
As touradas, aos poucos, foram desaparecendo em todo território nacional e, hoje, praticamente não mais existem.
"Certamente, nós a recebemos dos portugueses. Na tourada à moda brasileira não há sangue, não há morte do boi, nem cavalos com as tripas de fora, por imperícia do picador. De quando em vez um toureiro menos prático e mais afoito é espetado nas guampas... mas os demais companheiros o acodem logo... e não passa de um susto... “Caramba, que susto!”... Nosso toureiro é só toureiro e não “espada”, como acontece na Espanha, porque o nosso não mata o animal. Aqui o toureiro faz de tudo, toureia, passa a capa, escorneia, prega estrela na testa do animal, pega à unha e ... pode até ser palhaço". (Alceu Maynard de Araújo)
“A tourada, um divertimento bastante perigoso, um folguedo tipicamente da gente do sul, relacionado com os gaúchos e tropeiros. As arenas eram feitas de madeira branca e cipó, com bancadas, picadeiro, a mangueira, onde ficava o gado bravo a ser toureado e a “chiringa”, apertado corredor de passagem onde o boi ficava entalado, assustado com o vozerio, esperando a hora de sair contra os toureiros vestidos à espanhola, de calções coloridos. Tourear com as mantas, farpear e pegar sentado ou de pé eram as sortes com cada touro. O espetáculo era grosseiro e violento”. (Aluísio de Almeida)
Texto e pesquisa: Júlio Manoel Domingues - http://www.porangabasuahistoria.com/
Tourada realizada ao lado da antiga fábrica de algodão, início da déc. de 1940. Segurando a capa: Samuel |
Em 18/8/1920 o jornal “A Ordem”, de Conchas, noticiava a instalação do circo de touros, na esquina da Rua Minas Gerais com a Rua Rio de Janeiro, fundos do armazém comercial do Sr. João Miguel Caram (hoje banco Banespa), em frente ao Hotel Conchas, este também na esquina em frente, da Rua Rio de Janeiro com a Rua Minas Gerais. Talvez fosse um circo itinerante, por isso o local diferente.
Nas déc. de 1930 e 1940 as touradas aconteciam ao lado do prédio onde funcionava a antiga fábrica de algodão, construído no início do séc. passado pelo sr. Francisco José Speers, superintendente da estrada de ferro. É o mesmo prédio que fica ao lado do supermercado da Mama, em frente a linha do trem e hoje, abandonado, foi invadido pelos sem-tetos. Nessa época os toureiros Roque Diniz, "o Parafuso", e os irmãos Samuel e Gina brilhavam nas arenas. Samuel era também o vocalista do conjunto musical "Jazz Conchense" e cantor nos bailes de carnaval do CRB, ainda no antigo prédio à Rua Maranhão.
Antiga fábrica de algodão, depois "Bola Sete" (janelas com molduras brancas) em recorte aprox. de foto de 1937 |
Zeca Alfredo, déc. 1940 |
"Naquela noite em Salamanca, empolgado com meu encontro com Heminguay, falamos também sobre o toureiro do momento El Cordoves. Contei prá turma do "Samba Blue" a história hilária, mas romântica do Samuel Toureiro de Conchas. Organizamos uma rodinha após o jantar e aí comecei.
_____Então turma, tava formada la cuadrilla do toureiro Samuel, lá em cima, na Rua São Paulo, do lado do armazém do Consani. Na praça Tiradentes.
Uma fita de seda vermelha formava o primeiro quadrilátero com três lados do mundo.
Riram.
Nas pontas da fita, os moleques que não precisavam furar o pano da tourada. Entrariam de graça carregando caixas dos instrumentos da Banda. No centro os toureiros e no final do tercilátero, a "Lira Antoniana" sempre presente nas festas religiosas, coreto, manifestações de toda espécie.
_____Até nos enterros? Perguntou Gaspar.
_____"A Dolorosa" era a música que tocávamos, triste a bessa, mas peraí vou falar da Banda...
Zezinho Benedetti...
_____Aquele do porão do cinema ou do pássaro preto?
Perco o fio da meada, mas retomo.
Então, Zezinho Benedetti nos pratos, Galo Scalize e Celestino compunham a bateria e davam apoio pro Pedrão, Joanino, Filucho, Bininho, Paschoal Tomazela, pra mim e para mais uma pá de sonhadores como nós.
Estávamos naquela noite em Madrid!
O detalhe é que para la gran corrida, Zé Biro comprou um traje de luzes, de toureiro mesmo, pagou uma nota preta, com capa vermelha de matador, sombrero de matador, espada de pau, mas espada de matador, mas não ia matar, só ia montar no touro que não era um touro, uma vaca, mas era uma tourada.
No palanque a presença da banda "Lira Antoniana" |
_____Durma-se nessa confusão! Falou Gaspar
A Banda ensaiou "El Gato Montez". Entre os matadores, que só toureavam a vaca, estava Gina a primeira toureira do mundo, irmã de Samuel.
No bar do português ao lado da praça Tiradentes, a turma dos rabos de galo, parece que não estavam nem aí. Mais nem!
_____Esto és una tonteria, reclamava o espanhol conchense, Benjaminzinho Torres que á essa hora já estava pra lá de Bagdá.
Caleto, ao pistão fez a introdução à la espanhola, como nas corridas em Las Ventas. Na bumbada de Celestino, marcham em frente, los afeccionados. Descem empombados a rua São Paulo.
Panebianchi no foguetório.
_____Rojão que não acabava mais. Interveio Marilda que adorava essas histórias de Conchas.
A turma estava atenta...continúo
Vão pra traz do Clube do Bola Sete, perto da sorocabana. A tourada era lá...
_____Tourada? Mas não era de vaca? Carlos entendeu, mas chacoteou!
Riram, mas prossigo. Faço um suspense.
Samuel dando um "olé" no touro |
A Banda para de tocar, tensão, começa a tourada, corre daqui, agarra de lá, capa vermelha voando, no pega da vaca a Banda toca novamente, uma festa, uma alegria, amendoins torrados, algodão doce, pirulito da Norata e a novíssima maçã do amor.
_____Distinto e amáver público, com voceis, Gina a mulher toureira. Imitei com sotaque conches.
Samuel corre o chapéu arrecadando a gaita, afinal era pra ajudar a construção da nova Matriz.
____Sempre ce i preti permezzo, Dio santo, imito Pedrão Tomazela.
____Sempre tem os padres no meio, Deus santo. Djalma, o católico marítimo traduz.
Arquibancada cheia, com a presença de homens, mulheres e crianças |
Gina se prepara, será a sensação.
Entra a vaca, espumado, batendo furiosa as patas dianteiras, poeira pra todo lado, a vaca parecia um touro de brava. Era uma Miura feminina!
Riram muito!
Gina está em frente à vaca, a vaca bufa, expectativa do povo, Gina refuga, Samuel vai por traz do animal, cutuca a vaca e incentiva a toureira.
_____Vá Gina, vá Gina...
_____Marilda se ruborizou. Aproveitando-se da piada chula, o Samba Blue riu no escracho!
No rodeio conchense, o povo riu, se aquietou, suspense. A vaca investe, Gina no pega era craque, Agarrou a bicha com aqueles baitas brações morenos, fortes parecia homem... e de calça comprida ainda. Samuel puxando a vaca pelo rabo, atira a bicha no chão. Celestino ataca no bumbo e Joanino no bombardino puxam a Banda no dobrado.
Olho na vaca, olho na Gina, entrei fora do tom com a clarineta. Tio Felucho só olhou.
_____Não tá acostumado, é novinho, aprende.
_____Já guinchava a Clarineta naquele tempo? O Gozador Sestini não perdia uma.
Prossigo
Caleto, imitando Las Ventas, sopra com energia seu pistão.
Chegada a hora culminante da noite, o auto nomeado José Manolete Pinfildi, espetacular Zé Biro se prepara pra montaria.
Samuel pegando o touro "à unha" |
_____É do pasto do Nézinho, tava na invernada. Pula que é o demônio! Comentavam
No piquete a preparação final.
_____Passe o sorfete, aperte bem, recomenda Biro, vai... Solte.
Entra a vaca tresloucada, dá dois pulos e pimba, Zé Biro no chão, a banda fica muda, povo atônito e agora...
____Quero vê o filho da puta que aguenta muntá nessa morfética, grita Biro do meio da arena.
Arremato,
Zeca Alfredo que estava na arquibancada, terno azul, engravatado, arranca paletó, gravata, pula a cerca, dá um salto mortal, cai no lombo da vaca, dispensa o sorfete, entrelaça as pernas no ventre do animal...dez minutos depois a banda ainda tocava!
___Num sujô nem a meia branca, falei
____Em compensação, o chulé! Arrematei.
____Riram muito, até desconfiei que era efeito do Rioja.
____Migué, como era carinhosamente chamado pela turma do Samba Blue, conte outra de Conchas.
____Conte-nos outra, insistiram.
Falei outra vez em conchês!
____Outro dia se me alembrar, conto...Uéia!
Regressamos a Madrid
O sucesso nos esperava.
O inverno também."
Miguel Maimone "O Colecionador de Conchas" Tourada realizada ao lado da antiga fábrica de algodão e depois "Bola Sete", no lgo. das máquinas, início da déc. 1940 "El Gato Montes" a música mais tocada nas touradas |
Perfeito!!!! Me senti assistindo as touradas e gritando "Olé".Além de descrever tão bem ,vc enriquece e sonoriza as palavras!!! Lindo!! Parabéns1!! Bjs
ResponderExcluirObrigado Zezé, nada como ter uma irmã querida. Bjs
ResponderExcluirLINDO !!!!!!!!!!LINDO!!!!!!!!!!LINDO!!!!!!!!!!!!REINALDO VC É ESPECIAL!!!!!! CONCORDO COM SUA IRMÃ, ZEZÉ..... ATÉ A SUA DESCRIÇÃO É PERFEITA.... PARABÉNS!!!!AMEI!!!!! EL GATO MONTES ATÉ HOJE É TOCADA EN LA PLAZA DE TOROS DE ESPAÑA, ESSA MÚSICA FAZ FERVER O SANGUE..... LEMBRO-ME MUITO DO TIO JORGE..... OBRIGADA POR TANTAS EMOÇÕES , GRANDE AMIGO!!!!!
ResponderExcluirTourada em Conchas? Olha só, a nossa vocação boiadeira... ótimo! Parabéns!
ResponderExcluireu adorei a cidade de conchas a tourada é muito legal rsrrsrsrs
ResponderExcluirNaaaldoooo, só tive oportunidade de dar uma olhadinha hj e vi apenas esta parte das touradas com minha mãe. Já estamos encantadas!! Vamos continuar vendo o resto. Parabéns pelo esforço, vc está fazendo um trabalho mto legal para mta gente, que remoçou por meio dele. Abração. Simone
ResponderExcluirQue bom que gostaram Simone e obrigado pela visita e comentário. Mande um abraço meu para sua mãe.
ResponderExcluirAdorei a reportagem! Parabéns pelo blog!
ResponderExcluirnao gosto de tourada povo de conchal, pois essa coisa deve ser eliminada . pq o homem tem que destruir , acabar com as coisas boas que DEUS FZ. I sso é maustratos aos animais. GEALDA.
ResponderExcluirAdorei matéria Cidade de Conchas Revelada.Amigo de Miguel Ma
ResponderExcluirMaimoe (saudades).Samuel foi meu treinado de futebol. Vivi em Conchas de 1950 a 1958 .Fiz ginasial e magistério nesse período. MOREI POR ALGUM TEMPO NA CASA DA TOTY MAIA.BONS TEMPOS E OTIMOS AMIGOS. João Vaz,vulgo Porangabinha.