A história da minha família não está ligada a Conchas através de muitas gerações e, embora eu tenha sido registrado lá, nasci em outra cidade. Passei a infância e a adolescência em Conchas e durante muitos anos, tudo o que eu queria era me ver fora dela; o que acabou acontecendo quando vim para São Paulo estudar publicidade. Fiquei longas temporadas longe dela e de tudo o que me fazia lembrá-la.
Então, numa noite, há alguns anos, meu retorno a Conchas se tornou inevitável e nem em sonho imaginaria o quão profundamente adentraria em sua história outra vez. O meu contato, através da internet, com Toty Maya e o seu precioso material sobre a cidade, me emocionaram e me intrigaram. Também me invocou a lembrança do dia em que eu, ainda adolescente, folheava um álbum de fotos antigas do velho Pascoal Barone que, ao meu lado, dizia que aquelas eram imagens de uma cidade que já não existia e que estava sendo esquecida.
Hoje, recuperei parte dessas fotos que juntei a outras quase 3.000. Pois, desse encontro com a Toty o resultado foi uma abrangente pesquisa iconográfica sobre o CRB (nosso esquecido Clube), sobre a antiga igreja matriz (já demolida) e sobre a AAC (lugar dos primeiros jogos de futebol). E o mais importante: a descoberta de uma cidade com histórias interessantes e personagens inesquecíveis. Quando fui convidado pelo Miguel Maimone para criar a capa do seu livro de memórias e li os seus textos, isso tudo se confirmou.
Várias pessoas se tornaram parceiras nessa jornada ao passado, e gostaria de agradecer a todas que, generosamente, abriram seus baús e álbuns de família. De modo especial a duas delas que, além da querida Toty, colaboraram muito nesse resgate da história: Wilson (Baltazar) Diniz e sua esposa Claudia. Também ao Nelson Malheiro e Daniel Crepaldi pela permissão do uso de seus textos.
Pelo fato de não ser historiador, quero dizer que esse blog é a forma simples que escolhi para compartilhar um pouco desse tesouro que encontrei. São histórias, personagens e locais que fizeram parte da formação da cidade, e que estão aqui para serem lembrados antes que a poeira do tempo e o descaso das pessoas os sepultem de vez, e para sempre.
Foto panorâmica da cidade no início da déc. de 1930 (clique na foto para ampliá-la)
Conchas em 06/3/1920.
O perímetro urbano de Conchas textualmente de acordo com ata da Câmara Municipal em reunião de 06/3/1920 era o seguinte: “Partindo da casa de Ernesto Facciotto na rua Paraná seguindo até a estrada que segue para o Moquém, descendo por ela até o prédio Paroquial, faz quadra e desce até a rua Minas Gerais, sobe 250 braças, desce até a rua dos Escoteiros, sobe até a porteira do Claudino da Silva, volta até a rua Mato Grosso, praça Tiradentes, faz quadra com a casa de Sebastião Manoel de Souza, segue até a estrada de ferro, volta pela estrada que vem do Baguari até a Rua Minas Gerais”.
Nelson Malheiro em seu livro "Em Busca de Raízes", descreve esse perímetro, que ainda permanecia o mesmo na década de 1930:
"Como testemunha viva desse perímetro, quase o mesmo até 1934 estando quem escreve estas linhas com 8 (oito) anos de idade, pois tais limites do referido perímetro muito pouco se alteraram. Para os mais jovens expliquemos: a Rua Paraná era a atual Rua Sargento Afonso De Simone Neto que, em 1926 passou a ser parte da rodovia Marechal Rondon caminho para Botucatu, passando pela Rua São Paulo, antes sendo tal acesso pela estrada municipal que seguia vindo pelo Beco da Estação, trecho da atual Rua Maranhão, passando pela Rua nº 2, atual Rua São Paulo, seguindo após a Rua Amazonas, então nº10, passando pelo Rio dos Lopes, outrora Rio Chicú, seguindo para Botucatu pelos altos dos Alfredo. Ernesto Facciotto era ferreiro, pai do mecânico Gaudêncio este casado com Elza Guarino falecida em 12/2006, tendo sido vereador assumindo a vereança juntamente com Milton Bismara em 05/12/1960. O prédio paroquial seria a 1ª Capela do "Senhor Bom Jesus", localizada na esquina onde fica hoje a SABESP com fundos para a casa da Rua Cel. João Batista de Camargo Barros, onde hoje reside D. Vitória Neder Murebe. Rua dos Escoteiros é a atual Rua Bahia; porteira do Claudino era uma das entradas ou saídas para a cidade de Pereiras através do Bº dos Silva, parte das terras pertencentes ao Manoel da Silva Pinto, falecido em 1892, pai do Claudino que então ali por perto tinha sua morada, ao lado de uma grande amoreira, na qual quem escreve estas linhas se deliciava com seus frutos, nela empoleirado pelas tardes fagueiras da minha infância. Sebastião Manoel de Souza conhecido fogueteiro, era pai do Hermelindo e de José Pedroso; estrada do Baguari é Rua que vem da Olaria do Tócchio passando a linha férrea."
Início do século passado - Oficina do Menotti Faciotto (sentado). No local, hoje é a Funerária Bom Pastor (R. Sgto. Afonso De Simone). A máquina á direita dele, era uma antiga ferramenta manual usada para arquear laminas de ferro em brasa, de aproximadamente 5 a 10 cm de largura para dar durabilidade e sustentação ás rodas de madeira usadas nas carroças. (clique na foto para ampliá-la)
A construção grande ao fundo e na extrema direta da foto é a Cobrasil. O trecho de rua que aparece todo murado é da R. Sgto. Afonso De Simone. O telhado (duas águas) que aparece, de frente ao muro, é o da antiga oficina do Gaudêncio Faciotto. Em frente da oficina foi, por algum tempo, a Coletoria e o coletor se chamava sr. Hermes. (clique na foto para ampliá-la)
Detalhe de foto (rara) panorâmica feita em 6 de fevereiro de 1926, onde aparecem a antiga capela e a antiga matriz. (clique na foto para ampliá-la)
Abaixo, sequência de detalhes ampliados da foto panorâmica de 1930
Antiga Matriz, construída um pouco acima do lugar da Primeira Capela, a qual se refere o texto sobre o perímetro urbano de 1920. A Matriz foi entregue a população em 1931 e demolida no final dos anos 1960. (clique na foto para ampliá-la)
1- Estrada que vai parao Bairro do Santo Antonio; 2- Antiga ponte sobre o Rib. dos Lopes (antigo Rio Chicu); 3- Moinho e residência de Leonardo Sultani (ainda existente); 4- Armazém da Sorocabana. (clique na foto para ampliá-la)
"No ano de 1945, quando meu pai, Zeca Diniz, funcionário da Sorocabana, retornou de Porto Feliz, fomos residir na 2ª casa descendo a rua, que era a estrada para o Bairro do Sto Antonio. Havia perto da estação um Armazém da Sorocabana onde meu pai trabalhou." Depoimento de Wilson (Baltazar) Diniz.
1- Antiga descaroçadora de algodão (dos Palandri) na Rua Sgto Simone Neto (demolida nos anos 2000). 2- Residência e moinho dos Balarine (já demolidos); 3- Residência de Violeta e Michel Daher (ainda existente e totalmente restaurada)
1- Rua Pará, subindo um pouco mais acima é a esquina com a Rua Goiás; 2- Antigo depósito da Sorocabana; 3- Rua Goiás. (clique na foto para ampliá-la)
1- Casarão Assef, em frente a antiga rodoviária (ainda existente); 2- Local onde seria construída a antiga rodoviária; 3- Antigo CRB na Rua Maranhão (ainda existente, hoje residência de Elias Valdrighi e Jamila Caram); 4- Prédio (fábrica de algodão) ao lado do Supermercado Da Mama, no início da Rua São Paulo (ainda existente). (clique na foto para ampliá-la)
1- Rua Rio de Janeiro; 2- Casarão construído por Chico Silva, hoje sorveteria da Maria; 3- Terreno onde seria construído o Grupo Escolar Cel. João Baptista de Camargos Barros e também Serraria do Sr. Mingo Diana; 4- Estação Ferroviária (completamente abandonada); 5- Antiga farmácia da Rua Pernambuco x Rua Rio De janeiro, foi de Trajano Engler e depois do Sr Lulu Alves Lima e nos anos 70/80 pertenceu a Anielo Fontenelli; 6- Antigo Hotel Conchas, hoje loja "O Esquinão"; 7- Duas casas iguais, uma era a antiga residência do Dr. Carlos Augusto de Campos e família (anos 50/90) e na outra, a do dentista Calil Salum, mais tarde, nos anos de 1960, morou o casal Sebastien e Altina, ela era filha de Marcolino Rodrigues de Moraes (Nhô Marco), um dos primeiros políticos da cidade. (clique na foto para ampliá-la)
1- Rua São Paulo; 2- Casarão construído pelo Cel. João Batista de C. Barros, depois pertenceu a família Gorga, em 2005/6 foi restaurado, mas em 2009 sofreu completa reforma, descaracterizando-o totalmente; 3- Casa da família Guarino Marcos (ainda existente); 4- Largo de Sta Cruz e atual Pça Tiradentes; 5- Casa construída em 1918 por Delfino Ignácio Pires, antigo vereador da cidade (ainda existente no local e sofreu poucas modificações); 6- Residência de Agustinho Scalise, antes pertenceu a Cristino Gonçalez e atulmente mora Zinho Caram e família. (clique na foto para ampliá-la)
1- Casa na esquina das ruas Sgto Afonso de Simone Neto x Rua Ceará (ainda existente); 2- Casarão e antiga residência do ex-prefeito Raineiro Pastina (ainda existente); 3- Casarão antiga residência de Cathardi C. Pastina (demolida, hoje no local é o Posto Casarão). (clique na foto para ampliá-la)
1- Rua São Paulo x Rua Goiás; 2- Paineira ainda existente no alto do morro. (clique na foto para ampliá-la)
1- Casa de Ercilia Gomide (ficava ao lado da antiga Rodoviária, demolida nos anos 90); 2- ? ; 3-casa de João Valdrighi, a casa antes do n 5 era a residência de Simeão Mureb; 4- Rua Cel. João Batista de Camargo Barros; 5- Aqui moraram entre outros a família Malaquias e Zézinho Benedetti. (clique na foto para ampliá-la)
"Morava nessa rua e, talvez, numa dessas casas, a família Simeão Mureb. A sra dele era D. Dindinha da familia Marcati, cuja mãe era amiga da minha avó e ambas ligadas a movimentos e irmandades religiosas. Lembro, vagamente, também que tinha loja a sra Zilda Guarino. A loja era de retalhos, vendia o famoso algodão Tobralco. Os retalhos eram vendidos a peso, lembro dos desenhos dos tecidos infantis." Depoimento de Antonia Rorigues Moraes de Oliva Maya (Toty Maya).
1- Antigo depósito da Fepasa e fundos da Votorantim (está sendo restaurado), durante alguns anos nas déc. 1970/80 foi sede da SMUC (escola de samba organizada pela dona Galdina); 2- Casa (demolida) na esquina da Rua São Paulo x Cel. João Batista de C. Barros; 3- Atual Padaria do Gordo, antes Bar do Sergio, depois do Antonio Luiz e depois do Airton; 4- Sobrado da família Simone (hoje loja Petillu's), foi totalmente descaracterizado; 5- Armazém do Lgo. das Máquinas (nota-se a arquitetura típca da EFS); 6- Rua Maranhão. (clique na foto para ampliá-la)
1- Rua Amazonas; 2- Roupas lavadas no Corrego dos Lopes (antigo rio Chicu); 3- Casa ainda existente no local; 4 e 6- casas demolidas; 5- Casa da família de João Petilo (demolida em 2009, foto abaixo) ; 7-Armazens da EFS ou da Votorantim; 8- Olaria dos Antoneli. (clique na foto para ampliá-la)
Antiga casa da família de João Petilo (nº 5 da foto acima), demolida no final de 2009. (clique na foto para ampliá-la)
Os irmãos toureiros: Gina e Samuel. Rua São Paulo, início da déc. 1940
A tourada, à semelhança do circo, era um espetáculo apresentado em ambiente fechado. A função era marcada pela coragem, agilidade dos toureiros e a força dos animais. Havia sempre muita gente, a presença de autoridades e a animação da banda musical. A matéria prima necessária era abundante - bois bravos existiam por toda parte e os toureiros, bons ou maus, vinham de todos os lados. Era um espetáculo de arrojo passar a capa, pegar a unha e derrubar o animal. Colocar a estrela na testa do boi era outra ação muito aplaudida. Pegar a unha significava de qualquer modo: de pé, de costas, sentado, deitado, mostrando coragem e habilidade. Outra parte interessante no “show” era a oferta da “sorte”, para uma pessoa de destaque, a fim de ganhar um dinheiro extra na façanha que se propunha fazer.
A organização do espetáculo começava pela chegada dos participantes, a montagem do cercado, com chiringa e tudo, e a seleção dos animais. À divulgação do evento os toureiros desfilavam pelas ruas da cidade, em seus trajes coloridos e vistosos, acompanhados da banda e da criançada. Nas antigas touradas havia também as montarias em bois e burros chucros – (jamais poderiam imaginar o sucesso dos atuais rodeios!), uma façanha que agradava os assistentes.
As touradas, aos poucos, foram desaparecendo em todo território nacional e, hoje, praticamente não mais existem.
Da esq. p/ direira: Em pé: NI, Samuel "toureiro", Vadô Lara (boina); Atilio (motorista); Carlos Chamaim; Cegonha (taxista); Agachados: Ozias Souza Lopes e Joanim Fiere. Esquina da Rua São Paulo x Minas Gerais, a casa da direita é a Loja Alexandre, com sua arquitetura original, início da déc. 1940
"Certamente, nós a recebemos dos portugueses. Na tourada à moda brasileira não há sangue, não há morte do boi, nem cavalos com as tripas de fora, por imperícia do picador. De quando em vez um toureiro menos prático e mais afoito é espetado nas guampas... mas os demais companheiros o acodem logo... e não passa de um susto... “Caramba, que susto!”... Nosso toureiro é só toureiro e não “espada”, como acontece na Espanha, porque o nosso não mata o animal. Aqui o toureiro faz de tudo, toureia, passa a capa, escorneia, prega estrela na testa do animal, pega à unha e ... pode até ser palhaço". (Alceu Maynard de Araújo)
“A tourada, um divertimento bastante perigoso, um folguedo tipicamente da gente do sul, relacionado com os gaúchos e tropeiros. As arenas eram feitas de madeira branca e cipó, com bancadas, picadeiro, a mangueira, onde ficava o gado bravo a ser toureado e a “chiringa”, apertado corredor de passagem onde o boi ficava entalado, assustado com o vozerio, esperando a hora de sair contra os toureiros vestidos à espanhola, de calções coloridos. Tourear com as mantas, farpear e pegar sentado ou de pé eram as sortes com cada touro. O espetáculo era grosseiro e violento”. (Aluísio de Almeida)
Tourada realizada ao lado da antiga fábrica de algodão, início da déc. de 1940. Segurando a capa: Samuel
Em 18/8/1920 o jornal “A Ordem”, de Conchas, noticiava a instalação do circo de touros, na esquina da Rua Minas Gerais com a Rua Rio de Janeiro, fundos do armazém comercial do Sr. João Miguel Caram (hoje banco Banespa), em frente ao Hotel Conchas, este também na esquina em frente, da Rua Rio de Janeiro com a Rua Minas Gerais. Talvez fosse um circo itinerante, por isso o local diferente.
Nas déc. de 1930 e 1940 as touradas aconteciam ao lado do prédio onde funcionava a antiga fábrica de algodão, construído no início do séc. passado pelo sr. Francisco José Speers, superintendente da estrada de ferro. É o mesmo prédio que fica ao lado do supermercado da Mama, em frente a linha do trem e hoje, abandonado, foi invadido pelos sem-tetos. Nessa época os toureiros Roque Diniz, "o Parafuso", e os irmãos Samuel e Gina brilhavam nas arenas. Samuel era também o vocalista do conjunto musical "Jazz Conchense" e cantor nos bailes de carnaval do CRB, ainda no antigo prédio à Rua Maranhão.
Antiga fábrica de algodão, depois "Bola Sete" (janelas com molduras brancas) em recorte aprox. de foto de 1937
Abaixo, a crônica de Miguel Maimone, publicada no livro "O Colecionador de Conchas", onde descreve com muito humor e em detalhes, uma tourada que participou, ainda menino. Nela estão todos os elementos descritos acima como parte integrante do espetáculo (desfile pelas ruas, a banda da cidade, etc).
Zeca Alfredo, déc. 1940
"Naquela noite em Salamanca, empolgado com meu encontro com Heminguay, falamos também sobre o toureiro do momento El Cordoves. Contei prá turma do "Samba Blue" a história hilária, mas romântica do Samuel Toureiro de Conchas. Organizamos uma rodinha após o jantar e aí comecei.
_____Então turma, tava formada la cuadrilla do toureiro Samuel, lá em cima, na Rua São Paulo, do lado do armazém do Consani. Na praça Tiradentes.
Uma fita de seda vermelha formava o primeiro quadrilátero com três lados do mundo.
Riram.
Nas pontas da fita, os moleques que não precisavam furar o pano da tourada. Entrariam de graça carregando caixas dos instrumentos da Banda. No centro os toureiros e no final do tercilátero, a "Lira Antoniana" sempre presente nas festas religiosas, coreto, manifestações de toda espécie.
_____Até nos enterros? Perguntou Gaspar.
_____"A Dolorosa" era a música que tocávamos, triste a bessa, mas peraí vou falar da Banda...
Zezinho Benedetti...
_____Aquele do porão do cinema ou do pássaro preto?
Perco o fio da meada, mas retomo.
Então, Zezinho Benedetti nos pratos, Galo Scalize e Celestino compunham a bateria e davam apoio pro Pedrão, Joanino, Filucho, Bininho, Paschoal Tomazela, pra mim e para mais uma pá de sonhadores como nós.
Estávamos naquela noite em Madrid!
O detalhe é que para la gran corrida, Zé Biro comprou um traje de luzes, de toureiro mesmo, pagou uma nota preta, com capa vermelha de matador, sombrero de matador, espada de pau, mas espada de matador, mas não ia matar, só ia montar no touro que não era um touro, uma vaca, mas era uma tourada.
No palanque a presença da banda "Lira Antoniana"
_____Durma-se nessa confusão! Falou Gaspar
A Banda ensaiou "El Gato Montez". Entre os matadores, que só toureavam a vaca, estava Gina a primeira toureira do mundo, irmã de Samuel.
No bar do português ao lado da praça Tiradentes, a turma dos rabos de galo, parece que não estavam nem aí. Mais nem!
_____Esto és una tonteria, reclamava o espanhol conchense, Benjaminzinho Torres que á essa hora já estava pra lá de Bagdá.
Caleto, ao pistão fez a introdução à la espanhola, como nas corridas em Las Ventas. Na bumbada de Celestino, marcham em frente, los afeccionados. Descem empombados a rua São Paulo.
Panebianchi no foguetório.
_____Rojão que não acabava mais. Interveio Marilda que adorava essas histórias de Conchas.
A turma estava atenta...continúo
Vão pra traz do Clube do Bola Sete, perto da sorocabana. A tourada era lá...
_____Tourada? Mas não era de vaca? Carlos entendeu, mas chacoteou!
Riram, mas prossigo. Faço um suspense.
Samuel dando um "olé" no touro
A Banda para de tocar, tensão, começa a tourada, corre daqui, agarra de lá, capa vermelha voando, no pega da vaca a Banda toca novamente, uma festa, uma alegria, amendoins torrados, algodão doce, pirulito da Norata e a novíssima maçã do amor.
_____Distinto e amáver público, com voceis, Gina a mulher toureira. Imitei com sotaque conches.
Samuel corre o chapéu arrecadando a gaita, afinal era pra ajudar a construção da nova Matriz.
____Sempre ce i preti permezzo, Dio santo, imito Pedrão Tomazela.
____Sempre tem os padres no meio, Deus santo. Djalma, o católico marítimo traduz.
Arquibancada cheia, com a presença de homens, mulheres e crianças
Gina se prepara, será a sensação.
Entra a vaca, espumado, batendo furiosa as patas dianteiras, poeira pra todo lado, a vaca parecia um touro de brava. Era uma Miura feminina!
Riram muito!
Gina está em frente à vaca, a vaca bufa, expectativa do povo, Gina refuga, Samuel vai por traz do animal, cutuca a vaca e incentiva a toureira.
_____Vá Gina, vá Gina...
_____Marilda se ruborizou. Aproveitando-se da piada chula, o Samba Blue riu no escracho!
No rodeio conchense, o povo riu, se aquietou, suspense. A vaca investe, Gina no pega era craque, Agarrou a bicha com aqueles baitas brações morenos, fortes parecia homem... e de calça comprida ainda. Samuel puxando a vaca pelo rabo, atira a bicha no chão. Celestino ataca no bumbo e Joanino no bombardino puxam a Banda no dobrado.
Olho na vaca, olho na Gina, entrei fora do tom com a clarineta. Tio Felucho só olhou.
_____Não tá acostumado, é novinho, aprende.
_____Já guinchava a Clarineta naquele tempo? O Gozador Sestini não perdia uma.
Prossigo
Caleto, imitando Las Ventas, sopra com energia seu pistão.
Chegada a hora culminante da noite, o auto nomeado José Manolete Pinfildi, espetacular Zé Biro se prepara pra montaria.
Samuel pegando o touro "à unha"
_____É do pasto do Nézinho, tava na invernada. Pula que é o demônio! Comentavam
No piquete a preparação final.
_____Passe o sorfete, aperte bem, recomenda Biro, vai... Solte.
Entra a vaca tresloucada, dá dois pulos e pimba, Zé Biro no chão, a banda fica muda, povo atônito e agora...
____Quero vê o filho da puta que aguenta muntá nessa morfética, grita Biro do meio da arena.
Arremato,
Zeca Alfredo que estava na arquibancada, terno azul, engravatado, arranca paletó, gravata, pula a cerca, dá um salto mortal, cai no lombo da vaca, dispensa o sorfete, entrelaça as pernas no ventre do animal...dez minutos depois a banda ainda tocava!
___Num sujô nem a meia branca, falei
____Em compensação, o chulé! Arrematei.
____Riram muito, até desconfiei que era efeito do Rioja.
____Migué, como era carinhosamente chamado pela turma do Samba Blue, conte outra de Conchas.
____Conte-nos outra, insistiram.
Falei outra vez em conchês!
____Outro dia se me alembrar, conto...Uéia!
Regressamos a Madrid
O sucesso nos esperava.
O inverno também."
Miguel Maimone "O Colecionador de Conchas"
Tourada realizada ao lado da antiga fábrica de algodão e depois "Bola Sete", no lgo. das máquinas, início da déc. 1940
"El Gato Montes" a música mais tocada nas touradas
Detalhe ampliado da foto acima: "Ao Pão Paulista - Depósito de pão, biscoitos, etc. Completo sortimento de bebidas".
Detalhe ampliado da foto acima.
Na primeira foto acima, podemos ver, além da oficina Atanásio (o foco central dela), a padaria "Ao Pão Paulista"
Era de propriedade de Leonardo Sultani e ficava à Rua São Paulo no então nº 55. Este senhor foi por muitos anos um dedicado guarda-livro que fazia a escrituração de praticamente todas as casas comerciais de Conchas na déc. de 1930. Andava sempre apressado na Rua São Paulo, com alguns livros de escrituração comercial sob o braço. Ele era de baixa estatura, mas robusto, filho de Atílio Sultani falecido na Itália e Camila de Marco. Casou-se em 24/4/1920 com Luiza Gonçalves filha de Francisco Gonçalves de Almeida e Vicentina Ramos dos Santos e teve à margem esquerda e à beira do Ribeirão dos Lopes, logo abaixo da ponte, sua casa de morada e o barracão onde D. Luiza sua mulher fabricava a melhor farinha de milho da cidade, pois a fartura de água potável do ribeirão ao lado e os cuidados da fabricante não a deixavam azedar, o que era comum pela falta de água. Quem vê hoje o tal ribeirão (antigo "Chicu") poluído e mal cheiroso, custa acreditar neste relato.
Leonardo Sultani, déc. 1940.
D. Luiza trabalhava com as filhas Ordália e Áurea. Esta se formou professora pela nossa escola normal e faleceu em Conchas em 2005, ainda residindo no mesmo local da fábrica de farinha dos seus pais.
“Ao Pão Paulista” tinha seus pães fornecidos pela grande Padaria Siciliana de São Paulo, cujo produto aqui chegava de madrugada em um trem da Capital. Talvez nossa cidade não comportasse ainda uma padaria comercial, pois além do nosso hábito caboclo de comer batata doce, mandioca e bolo de fubá, os italianos fabricavam seus próprios pães caseiros com farinha de trigo, hábito da sua cultura européia, além da famosa polenta.
Mas logo passamos a ter algumas padarias como sendo as mais antigas: de Benedito Benedetti à Rua São Paulo, de Henrique Busneli que também vendia bananas, milho verde e limões na esquina da Rua Pernambuco com a Rua Rio de Janeiro, onde arrendava terras e fazia lavoura. Na década de 30 tivemos as padarias: de Donato Pastina & Cipulo (futuramente seria de Julio Milanez e hoje é um restaurante) e a de Joaquim Bento de Carvalho (português), este pai de Antonio Bento o conhecido Tonico açougueiro; ambas as padarias na Rua São Paulo. O Sr. Busnelli chegou arrendar cinco alqueires de terra, das imediações das atuais ruas Rio de Janeiro e Pernambuco até além da Praça Tiradentes, para fazer lavoura. Por volta de 1936, não tendo mais padaria, gostava de provocar a curiosidade das pessoas que passavam por sua quitanda, jogando pela rua pequenos embrulhos bem feitos e amarrados, contendo cascas de banana e baratas.
1- Estrada para o Bairro do Sto. Antonio; 2- Ponte sobre o Rib. dos Lopes (antigo rio Chicu); 3- Moinho e casa do Leonardo Sultani; 4- Armazém da Sorocabana. Detalhe ampliado de foto panorâmica da déc. 1930.
Padaria do Cipulo
Rua São Paulo, 1930: "Confeitaria Central" (3ª casa à direita) de Donato Pastina & Cipulo. Foto: arq. Toty Maya.
Detalhe ampliado da foto acima (na fachada: "Confeitaria Central").
Padaria Central, mais conhecida como Padaria do Júlio
Antiga padaria do Cipulo comprada por Júlio Milanez que ao lado dos irmãos marcaram o atendimento a população conchense. Na Rua São Paulo, formava, em conjunto com a sapataria Casa Moraes, Casa Caram, Atelier Mafaraci, Farmácia Luvizotto, Posto do Dedê e Casa Moyses o coração comercial da cidade. Ponto de encontro no dia a dia para o papo, cafezinho e as compras. Oferecia aos clientes suas delícias, os inesquecíveis pão temperado e pão corneta, sequilhos, folhados e cremes.
Padaria Central, Rua São Paulo, 20 de julho de 1948, antes da reforma (Julio Milanez de suspensórios na porta).
Por ocasião do Natal a atmosfera se tornava especial. Graciosamente em atenção aos clientes os fornos eram liberados para os assados natalinos. Os próprios funcionários se responsabilizavam e desdobravam-se com esmero para dar conta dos frangos, pernis e leitoas de quase toda a clientela. Era uma azafama entre os cuidados com os fornos e atendimento ao balcão. Por conta da data, especial, eram muitas as novidades, frutas secas, maçãs e uvas importadas. Papel de seda azul recobria as maças e as uvas, envolvidas em serragem, ficavam num saco de aniagem próximo a porta . Chocolates, guloseimas, confeitos, baleiros repletos despertavam a gula da criançada. Era uma festa a véspera do Natal.
Foto 1: A Padaria reformada em 3 de agosto de 1952, da esq. p/ dir.: Agenor Fragoso, Dedê Daher,Pipe Daher, Luiz Milanez, Fued Alexandre e Julio Milanez. Foto 2: Julio, Yolanda (esposa) e filhas (Terezinha e Ana), 1952.
Padaria Central (sacada), à esquerda do ateliê Foto Mafaracci, anos 60.
O espírito empreendedor o Sr Júlio Milanez transformou com uma reforma a antiga padaria, mudanças que trouxeram novo visual e maior conforto. Conservados, entretanto, a tradição do bom atendimento e respeito aos que dela faziam seu ponto de encontro e de compras. Na parte de cima ficava sua residência, com uma sacada, de onde, no dia primeiro do Ano, ele jogava doces e balas misturados com moedas para a criançada que se aglomerava lá em baixo, na rua.
Padaria do Joaquim "português"
Também na Rua São Paulo, logo após a esquina do Saifen (Rua Rio de Janeiro), local onde funcionava a agencia da Caixa Econômica Federal. Seu proprietário era o Sr Joaquim de Oliveira que, com os filhos Alberto e Albino, administravam a mesma. Tinha um balcão recheado de guloseimas que encantavam as crianças. As imitações de sorvete feitas em copinhos recheados com suspiro colorido, bengalinhas com aneizinhos de brinde, pirulitos de açúcar vermelhos em forma de chupeta e galo, doce de abóbora em forma de coração e sinhazinhas deliciosas.
Detalhe da foto (1) abaixo: Padaria do Joaquim "Português" 2ª casa à direita.
Foto 1: obras de canalização de água na Rua São Paulo, 1950. Foto arq. Toty Maya. Foto 2: Rua São Paulo, início da déc. 1960, Padaria do Joaquim "Português", 1ª casa à direita. Foto arq. Zé de Lara.
Fontes de Pesquisa: Malheiro e Crepaldi "Em Busca de Raízes" e Toty Maya (texto "Padaria Central")
Foto do cortejo fúnebre de Mestre Eugênio em 6 de julho de 1913, com a banda "Lira Pereirense" acompanhando. Da esq. p/ dir.: Sabatino Pastore, Camilo VAz de Almeida (baixo); Antonio Firmino de Almeida - Tonhão (trombone e harmonia); João Ribeiro (pistão); Atanazildo Vaz de Almeida (trombone de canto); Lázaro Firmino de Almeida (trombone e bombardino); Antonio Corrêa - Tonho Preto (bumbo); Antonio Culau (caixa); Aristides Firmino de Almeida - Terrão (harmonia); Euclides Firmino de Almeida - Formiga (harmonia); Benedito de Góis Lima - Ditinho (clarineta) e Benedito Silva - Dito da Izaltina (harmonia)
Detalhe ampliado da foto acima. Hoje, parece mórbido, mas era muito comum em fins do séc. XIX e início do séc. XX tirar fotos de falecidos como última recordação.
Em 06/7/1913 faleceu em Conchas aos 40 anos de idade o maestro Eugênio do Amaral Camargo filho de escravos cujos pais adotivos eram: Leodoro do Amaral Camargo (filho de Salvador Amaral Camargo e Gertrudes Leite da Silveira), e Carolina Augusta dos Reis (Nhá Lola) que vieram de Pereiras residir e manter casa de comércio na então rua Dr. Mariano (também conhecida por rua do Comércio e rua nº2) e, atualmente, por Rua São Paulo. Carolina era filha de José Antonio dos Reis então rico fazendeiro no Bairro das Laranjas, hoje Laranjal Paulista. Mestre Eugênio foi o fundador das nossas primeiras Bandas de Música, “Bom Jesus”, em 1902 (segunda fase da banda) e “São Benedito”. Era um gênio musical pelo testemunho de pessoas que o conheceram como o Sr. Ernesto Benedetti, segundo o qual Eugênio, depois de ouvir pelo gramofone algumas vezes uma música, reproduzia a letra musical tocando-a nos seus instrumentos prediletos: requinta ou sanfona. Compôs alguns dobrados dentre os quais destacamos dois pelos nomes sugestivos: “A Revolução de Conchas” e “A Vitória de Conchas”; estas composições com certeza têm muito a ver com o movimento popular pela volta do Distrito de Paz de Conchas para Tietê, criado em 05/12/1896 sob a jurisdição de Tietê, mas que por um golpe político de Tatuí passou a pertencer a Pereiras de 14/9/1899 até 14/9/1902. Em 12/5/1902, voltou nosso Distrito de Paz à jurisdição de Tietê. Compôs também uma marcha fúnebre “Dolorosa” dedicada ao seu irmão José (Jeca) do Amaral Camargo, assassinado em Conchas.
Cel. João Batista de Camargo Barros, déc. 1900
“Bom Jesus”, a primeira banda em sua fase inicial.
A história começa em 1894 com a vinda do músico Miguel Machado de Oliveira da cidade de Passa Três, atual Cesário Lange, que viria a ser seu primeiro maestro. O Nome “Banda Bom Jesus”, fora dado em homenagem ao padroeiro da paróquia de Conchas. Não demorou para que Eugênio assumisse a posição de maestro, tais eram suas qualidades, tanto que passou a ser conhecido e chamado de Mestre Eugênio, pois, além de músico, tornou-se professor e maestro e, coroando suas qualidades, o talento de compositor musical.
Desentendimento na “Bom Jesus”
Por volta de 1906, séria divergência na banda levou mestre Eugênio a se afastar da “Bom Jesus” e a formar uma nova banda, a “São Benedito”, da qual também foi o primeiro maestro. No lugar de Eugênio, como maestro, ficou Anacleto Marcelo Betone.
Várias causas surgiram para explicar o desentendimento: mulher, política e a própria musica.
E a política era acirrada. De um lado, os que se apoiavam em Tietê, orientados pelo Coronel João Batista de Camargo Barros e, de outro lado os que se apoiavam em Pereiras-Tatuí, orientados por Heliodoro Amaral Camargo (pai de criação de Eugênio), Bento Rodrigues Monteiro (concunhado de Heliodoro) e Marcolino Rodrigues de Morais (Nhô Marco). A rivalidade era tanta que ao se cruzarem pelas ruas tocavam dobrados ou marchas diferentes, tentando derrubar a do outro lado. Certa vez, Bento R. Monteiro, que era o delegado, precisou intervir, temendo que surgisse briga. Os ensaios da Bom Jesus eram, junto à Serraria do Speers, onde o Coronel Barros era gerente.
Após o desentendimento, a "Bom Jesus", era formada mais por italianos, raros eram os brasileiros. O Coronel Barros era amigo dos italianos. Já a São Benedito, era mais de negros e sitiantes, raros eram os italianos.
A "Bom Jesus", como já vimos, tinha seu nome em homenagem ao padroeiro da paróquia, mas chamavam-na também de Banda do João de Barros, ou, do Coronel Barros, do Barrinho, em referência ao Coronel que era de pequeno porte, baixinho e magrinho, usando, permanentemente, uma cartolinha. Chamavam, também, de Banda de Baixo.
A "São Benedito" era a Banda de Cima. Depois da saída de Mestre Eugênio ficou como maestro Anacleto Marcelo Betone, que foi o terceiro a dirigi-la.
A "Bom Jesus" foi extinta em 1907 e seus instrumentos foram vendidos para Pederneiras.
Banda “São Benedito”
Também chamada de “Banda do Leodoro”, “Banda do Eugênio” ou “Banda de Cima”. Os instrumentos foram comprados por Heliodoro Amaral de Camargo, o real fundador, e o apoio dado por João da Silva. Era natural de Porto Feliz e procedia de Pereiras. Mestre Eugênio Amaral Camargo era filho de escravo criado por Heliodoro, tanto que tinha o mesmo sobrenome, como era hábito, então, isto é, escravos libertos e seus filhos adotavam o sobrenome de seus senhores, depois, patrões, tanto assim é verdade que ensaiavam na casa de Heliodoro, onde também eram guardados os instrumentos, em baús.
Eugênio era músico exímio, inteligente e de bom ouvido, ensinou todos, ou quase todos os primeiros músicos de Conchas. De temperamento boêmio e vaidoso de sua arte, tanto que em certa ocasião resolveram pregar-lhe uma peça. Ernesto Benedetti, munido de um gramofone (um dos dois que havia na cidade, o outro era o de David Polini), acompanhado de alguns amigos, planejaram uma alvorada e foram para a frente de sua casa tocar o “Hino de Garibaldi”. Souberam, depois, que, possuído de ressentimento, Eugênio havia reclamado nêstes termos: “Por que não pediram para mim, em vez de mandarem buscar uma banda de fora?”.
Era solteiro, mas segundo seu afilhado, Antonio Rodrigues Lara (Antonio Adão), que residiu em Conchas dos 6 aos 12 anos, Eugênio convivia, maritalmente, com Inhana (Ana). Era pedreiro de profissão. Em seu enterro foi prestar-lhe a homenagem merecida, em farda de gala, a “Lira Pereirense”, regida por Sabatino Pastore. E foi executada no cortejo, a marcha fúnebre “Dolorosa” de sua composição.
Foto sem identificação. Provavelmente, o primeiro em pé a esquerda, é o Mestre Eugênio (está segurando batutas na mão).
Banda “Santa Cruz”
Os músicos da “Santa Cruz”, segundo fotografia de 1914 pertencente a Antonio Paulino da Cunha e Maria Aparecida Paulino da Cunha, filhos de José Paulino da Cunha, (que haviam pertencido a banda de Eugênio), eram, da esquerda para a direita, de pé: Armando Antonio Ferreira (sax de harmonia); Germino Formigoni (trombone de canto); Benedito Morais (trombone de harmonia); Pedro Severino (clarineta); Durvalino França (clarineta), irmão de Gustavo Teixeira da Cruz; Joaquim Severino (requinta); Manoel Rosa (bombardino); José Malaquias de Camargo (trombone de harmonia). Sentados: Valêncio Alves Lima (baixo); Lázaro Ribeiro – Lazinho Pitoco (bumbo- prato); Antonio Severino (sax de harmonia); Raul Gomide (sax de harmonia), e Euclides Morais (pistão).
Em 1912, não havia banda na cidade de Conchas, e isso devia corresponder a realidade, tanto que, na foto do enterro de Mestre Eugênio, em 6/7/1913, estão os músicos da “Lira Pereirense”. Em fins de 1915 ou 1916, existiam duas bandas: “Santa Cruz” de João Pedro de Arruda (mais conhecida por Banda de João Izidoro), e a Banda de João Alberto de Campos (essa sem nome específico). Essas duas tiveram vida mais curta que a “Banda Bom Jesus” e a “Banda São Benedito”, pois, já não existia nenhuma na cidade nos começos de 1918, pois a última ocasião em que a “Santa Cruz” tocou foi na vitória dos aliados, na primeira Guerra Mundial, em1918. Nessa ocasião 3 bandas tocaram: de João Izidoro (“Santa Cruz”), de “João Alberto de Campos” e a “Lira Antoniana” que ainda não tinha nome. Segundo relatos da época, tocaram o dobrado “Santiago”.
A “Santa Cruz” parece ter sido continuação da “São Benedito”. E mesmo após a extinção da “Bom Jesus” e a “São Benedito”, a rivalidade perdurava, agora, entre a “Santa Cruz” de João Izidoro (com os apelidos: de cima, gafanhotos e hermistas) e a do Coronel Barros (de baixo, carrapatos e civilistas).
A banda de João Alberto de Campos deve ter existido somente durante três anos, de 1915 a 1918, e ao que se sabe, em 1923 tanto ela quanto a “Santa Cruz” já estavam sem atividade. Pesquisa: Malheiro e Crepaldi "Em Busca de Raízes" e Fraletti "Bandas de Conchas"
Antonio Foga, o Tarzan, no famoso poço do rio da Figueirinha.
Nas décadas de 30 e 40 surgiu nos cinemas e virou moda o lendário Tarzan, herói criado pelo escritor ingles Edgar Rice Burroughs. Entre os atores que interpretaram o herói das selvas africanas se destacou Johnny Weissmuller, campeão olímpico de natação (1924 e 1928), e que criou o famoso grito do Tarzan. Interpretou também Jim das Selvas, um aventureiro, que vestindo um conjunto safari e capacete, percorria a África em diversas aventuras. Em Conchas, o cover do Tarzan foi Antonio Foga e do Jim das Selvas foi Oriente Ribeiro, ex-funcionário do Posto de Saúde e tio do Caçulinha, músico acordeonista da televisão. A dupla Antonio Foga e Oriente Ribeiro, este já falecido, protaganizou muitos “causos” conchenses. Entre eles, A Sucuri do Oriente, descrito de forma muito divertida no livro “O Colecionador de Conchas”, de Miguel Maimone, e que vale a pena ser reproduzido aqui.
Fotos: Casamento de Mercedes e Antonio Foga, 18/07/1954, no centro Antonio Foga como caçador e à direita, no Exército, em Campo Grande - MT
Antonio Foga e as sucuris
"A SUCURI DO ORIENTE
Numa noite, o cinema ficou lotado. Era apresentação da Sucuri do Oriente.
_____ E daí Carrasco?
Luizinho do Maé faria parte do espetáculo, caçava ratos e pombas para alimentar a sucuri.
Não deu outra ficou conhecido como Luizinho Carrasco.
_____A bicha apertou, matou.
_____Dizem que engole até um boi
_____Isso é verdade, afirmou Carrasco, afinal já sabia da voracidade da cobra.
Toca a Banda, era a hora H.
O padre Geraldo agradeceu o povo pela colaboração para construção na Nova Matriz.
____ Pecador, aproveitador! Alguém cochichou
Ico Guarino, anunciou:
Antonio Foga e atrás, de conjunto safari Oriente
____ Com vocês, a Sucuri do Oriente.
Aplausos contidos, podiam acordar a cobra.
Os astros entram no palco, António Foga, Luizinho Carrasco e Oriente, este o próprio representante dos safáris africanos, sapato da loja do Mauricio, meia soquete, calça curta de brim cáqui, Jean Sablon, capacete Ramenzzoni...perceberam?
Suspense na entrada dos atores e da imensa caixa de madeira.
_____Home, é grande comentou Mirico!
_____Ce nem viu a cobra ainda!
_____Só a caixa, tonto!
_____Tamém é grande pá mais de metro!
_____Será que agüenta?
_____Craro, foi feita pelo Caleto!
Galo Scalize deu uma rufada na caixa
Oriente, NI e Antonio Foga
Como um mágico, postura de caçador, Oriente enfia a mão na caixona, retira a sucuri que se enrola sonolenta no seu braço.
_____Oooooh!
_____ Não se impressionem, é grande mas é mansa, Foga, o partner acalma a platéia.
_____Peguei no pantanal com meu amigo Foga, numa noite escura que era um breu!
____ Deu muito trabalho? Gritou Quinzinho Madame, da fila do gargarejo.
____ Lutou muito, mas tá aqui a bicha!
Atenção redobrada. Chegava o momento
Marujo, cachorro do caçador, imóvel, está entre latir ou correr.
Oriente põe o pulmão prá fora, quase gritando, o cinema lotado.
_____Agora uma demonstração da força dessa besta humana.
_____Humana? De soslaio, a esposa Francisca corrige.
_____Quero dizer, sobre-humana!
Galo rufa a caixa
Oriente elegantemente enrola a sucuri no pescoço.
_____Oooooh! Redobrado
Antonio Foga no poço do rio da Figueirinha
_____Ói só, que lôco!
_____Mai nem!
_____Que corajudo!
Mesuras circenses. O povo aplaude delirantemente, entre vivas, urras, algazarra, a banda ataca Batista de Melo, pronto acordou a cobra.
Aí virou um corre corre danado. A sucuri disse a que veio. Oriente corria perigo eminente de morte, a cobra, nervosa que tava, passou a apertar violentamente a garganta.
_____ Isso que é tutano! Exclama Jorjão da Cheina que era forte que nem um touro.
_____Puta bocão! João Daher
_____Chama o Doutor Nassin! Apressou-se, prevendo a fatalidade, Dão Caram.
Antonio Foga no poço da Figueirinha
Trem do Horário, desta vez muito antes do horário, some pro meio da rua, larga a mala do repertorio de dobrados. Escarafedeu-se! Azar dele, perdeu o lanche da banda, pão com mortadela e taubaina.
Tava feito o banzé! Foi um cu de boi
Na correria entram no palco Edmundo Athanazio, Caleto, Felucho, os mais forçudos coadjuvados pelo Foga. Contra atacam a violenta cobra com tal força que ela vai afrouxando o laço aos poucos. Finalmente vencida foi atirada na caixa de madeira. Tava dominada e ponto final
____ Não ia poupar nem o Luizinho Carrasco, comentou Toninho Lopes.