Quem sou eu

Poeira do tempo

A história da minha família não está ligada a Conchas através de muitas gerações e, embora eu tenha sido registrado lá, nasci em outra cidade. Passei a infância e a adolescência em Conchas e durante muitos anos, tudo o que eu queria era me ver fora dela; o que acabou acontecendo quando vim para São Paulo estudar publicidade. Fiquei longas temporadas longe dela e de tudo o que me fazia lembrá-la.

Então, numa noite, há alguns anos, meu retorno a Conchas se tornou inevitável e nem em sonho imaginaria o quão profundamente adentraria em sua história outra vez. O meu contato, através da internet, com Toty Maya e o seu precioso material sobre a cidade, me emocionaram e me intrigaram. Também me invocou a lembrança do dia em que eu, ainda adolescente, folheava um álbum de fotos antigas do velho Pascoal Barone que, ao meu lado, dizia que aquelas eram imagens de uma cidade que já não existia e que estava sendo esquecida.


Hoje, recuperei parte dessas fotos que juntei a outras quase 3.000. Pois, desse encontro com a Toty o resultado foi uma abrangente pesquisa iconográfica sobre o CRB (nosso esquecido Clube), sobre a antiga igreja matriz (já demolida) e sobre a AAC (lugar dos primeiros jogos de futebol). E o mais importante: a descoberta de uma cidade com histórias interessantes e personagens inesquecíveis. Quando fui convidado pelo Miguel Maimone para criar a capa do seu livro de memórias e li os seus textos, isso tudo se confirmou.

Várias pessoas se tornaram parceiras nessa jornada ao passado, e gostaria de agradecer a todas que, generosamente, abriram seus baús e álbuns de família. De modo especial a duas delas que, além da querida Toty, colaboraram muito nesse resgate da história: Wilson (Baltazar) Diniz e sua esposa Claudia. Também ao Nelson Malheiro e Daniel Crepaldi pela permissão do uso de seus textos.


Pelo fato de não ser historiador, quero dizer que esse blog é a forma simples que escolhi para compartilhar um pouco desse tesouro que encontrei. São histórias, personagens e locais que fizeram parte da formação da cidade, e que estão aqui para serem lembrados antes que a poeira do tempo e o descaso das pessoas os sepultem de vez, e para sempre.


São Paulo, 28 de abril de 2011



quinta-feira, 28 de abril de 2011

Hotéis de Conchas

Nas fotos: Hotel dos Viajantes, Hotel Central e Conchas Hotel
Com a chegada da estrada de ferro, em 1887, Conchas se tornou uma movimentada fronteira agropecuária e o comércio, até então insípido, se intensificou. De viajantes vendedores a proprietários de terras, todos aportavam aqui cheios de sonhos. Os vários hotéis que a cidade teve demonstram essa grande frequência de pessoas que tinha a cidade no alvorecer do novo século.
Já em 1899, Bernardino de Biase tinha uma casa comercial e também um hotel, denominado "Central", em sociedade com Justino Guimarães, na Rua São Paulo, no trecho onde foi aberta a continuação da rua Cel. João Batista de Camargos Barros, em direção a estação de trem.
Os seguintes hotéis são da relação levantada para o livro "Em Busca de Raízes":
Hotel do Pinto de Bento Teixeira Pinto, Hotel Gorga de João Gorga depois de Justino Guimarães e Spínola a partir de 1920; Hotel Conchas de Maria Branca Batista depois de Ariano Teixeira Pinto e arrendatários deste como a Família Henriques e de Maria da Silva; Hotel Central de Amadeu Biagioni, Hotel América de Domingos Pastina depois Hotel Magossi, Hotel dos Viajantes de Tomaz Athanázio antes Hotel Gorga, Hotel Guimarães, de Justino Guimarães em 1920 e que depois teve uma famosa confeitaria na Rua São Paulo, por fim, Hotel dos Alfredo.
 Tivemos também as pensões: do Athaíde relojoeiro, da Dona Assumpta Atanásio, do Santino Alfredo, e da Dona Norata, que atendia mais às famílias de sitiantes amigos. 

Hotel dos Viajantes


Hotel visto da rua Maranhão, déc. 1950
Este hotel ficava na Rua Maranhão esquina com a Rua Ceará, onde hoje residem as filhas (Helena e Salete) do então proprietário, Thomaz Atanásio. Considerado por muitos como um dos mais importantes hotéis da cidade, eram comuns as reuniões políticas realizadas em seu restaurante, como atestam as duas fotos postadas logo abaixo.
O Primeiro registro que temos do hotel é um recibo do ano de 1912, com o timbre do mesmo impresso no canto superior esquerdo. O nome que consta é o de Silverio Francisco Henriques, este possivelmente o primeiro proprietário do hotel. O próximo dono foi João Gorga e, a partir de 1920, Justino Guimarães e Spínola. Na década de 1930, Thomaz Atanásio o adquiriu de João Gorga e continuou como proprietário até o seu fechamento. Thomaz é filho de Afonso Atanásio e Carolina Atanásio, avós de Duílio Scalize o nosso “herói da 2ª Guerra Mundial” e de seu irmão Pasqualino, membro da “Banda Lira Antoniana”. O hoteleiro “Tomazinho”, como assim era chamado carinhosamente, tinha como profissional uma apresentação notável, a começar pelo traje branco e asseado, impecável! Trajava-se à caráter nas atividades que desempenhava.


Detalhe aproximado da foto anterior
 Abaixo, duas fotos do interior do hotel.

Almoço político por ocasião do início da canalização da rede de água da cidade, 1948.

Jantar político, déc. 1940

Abaixo, uma foto panorâmica da cidade, aproximadamente da déc. de 1900.
No detalhe ampliado, logo abaixo, podemos notar que o prédio do hotel (marcado em vermelho) já existia na mesma esquina.



Fotos: acervo Toty Maya
http://www.conchasmemorias.com.br/
 Recibo de venda, comprovando a existência do Hotel em 18 de dezembro de 1912.
Logo abaixo, detalhe do timbre do hotel com o nome de Silverio Francisco Henriques.


Documento: acervo Toty Maya

João Gorga em 28 de dezembro de 1928

João Gorga
"Foi o primeiro maestro da banda de Porangaba e deve ter chegado em 1898, logo depois de seu irmão, o padre Gorga. Veio da Itália, de Roccadaspide, Província de Salerno, onde nasceu em 20/10/1874. Tocava requinta. Dirigiu a primeira banda, cujos músicos eram, na maioria, italianos. Viveu em Bela Vista até, mais ou menos, 1911/12, mudando-se depois para Conchas onde faleceu em 06/11/1930, com 56 anos de idade e está sepultado no cemitério local. Marcou seu nome na comunidade como pessoa benevolente, bastante atuante na parte assistencial à população carente. Além de músico, exerceu cargos importantes: sacristão, comerciante, agente do correio, representante do juiz eleitoral, delegado de polícia, juiz de paz, etc. Foi casado com d. Maria Ricco." (Júlio Manoel Domingues - http://porangaba.locaweb.com.br/)

Thomáz Atanásio no centro da foto
Baile do Algodão, antigo CRB, déc. 1940



Thomáz Atanásio
"Nasceu em Conchas, em 10/12 tendo sido registrado em 28/12/1902. Não só pela polidez no relacionamento com as pessoas, em geral e fregueses se destacava, mas ainda pela voz de tenor, única em Conchas, nos encantava nos momentos festivos da comunidade. E aqui me vem à lembrança saudosa as imagens de 1938, da entrega festiva de diplomas aos alunos do 4º ano do Grupo Escolar, em que eu era um deles, juntamente com Pasqual Paladine e João Parise. E entre várias apresentações de escolares no palco engalanado do Teatro do CRB, as canções napolitanas esperadas, como Santa Luzia, apresentadas pelo nosso conterrâneo tenor, enchiam o ambiente de emoção.
Thomaz, tendo sido vereador em 1948, juntamente com seu irmão Francisco voltou à Câmara Municipal no ano de 1968 e faleceu em 20/7/1984." (Nélson Malheiro - Livro: "Em Busca de Raízes")









A canção Santa Lucia, na voz de Caruso, gravação de 1916

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Conchas Hotel


Hotel visto da rua Rio de Janeiro, início da déc. 1920
O antigo prédio do Conchas Hotel ficava na esquina da Rua Rio de Janeiro com a Rua Minas Gerais. Foi provavelmente o primeiro prédio de tijolos com uma planta feita especificamente para um hotel. Existiu anteriormente no mesmo local um antigo hotel chamado "Hotel Pinto", pertencente a Bento Teixeira Pinto, que o comprou de João Gorga em 26/4/1917. Sabemos da existência desse primitivo hotel pela notícia do jornal "O Tietê" de abril de 1902, onde é  relatado que lá se hospedou parte da caravana de tieteenses que veio comemorar a volta do Distrito de Paz de Conchas para a jurisdição de Tietê.
Em 22/02/1917 houve, pela Câmara Municipal, desapropriação de faixas de terra para o alargamento da rua Rio de Janeiro, então principal via de acesso a estação ferroviária. Nesse mesmo ano, Maria Branca Batista, com o dinheiro dessa despropriação compra o antigo hotel e anexando-o ao seu terreno, constrói o novo prédio, com planta própria. Ficou pouco tempo com ele, e em 14/8/1920, um mês antes de falecer, solteira e sem herdeiros, ela o vende para Ariano Teixeira Pinto. A partir dessa data, o prédio foi arrendado para Paulo Chaguri, Justino Marques Guimarães, Francisco Henriques e finalmente, por volta de 1938, à Francisca Maria da Conceição Silva, que o arrendou com recursos próprios após a falência do seu marido, o abastado boiadeiro Chico Silva.
Finalmente, em 28/6/1938, Ariano Teixeira Pinto, que morava em Araraquara, vende o hotel a Paulo Amim Cury e José Alexandre. 

Na sequência, detalhes da foto acima que foi cedida por Vera Henriques, filha de Francisco Henriques, arrendatário do Hotel na década de 1920


No detalhe abaixo, podemos ver na extrema direita a casa construída, na déc. de 1920, pelo casal Cantidiano Alves Lima e Gertrude Teixeira Pinto.

"Quando criança, ia muito a casa de dna. Gertrude para vê-la tocar o piano que ficava na sala de estar. Atravessava a rua em disparada ao ouvir os primeiros acordes de música, me sentava e ficava ouvindo, hipnotizada, aqueles sons maravilhosos e como sempre acontecia, assim que terminava de tocar, ela me oferecia um doce." Depoimento de Vera Henriques.

Globo de luz iluminando a porta de entrada do hotel
 
Na foto abaixo o Hotel visto da rua Minas Gerais, ainda na déc. de 1920
  
Foto: acervo Vera Henriques
 
Detalhe da foto acima, onde se observa a arquitetura do prédio com os seus ornamentos. Hoje, totalmente desfigurado, o prédio abriga uma loja de materias de construção.


Nas fotos, os filhos de José Francisco Henriques
   

José Francisco Henriques
"O Sr. José Francisco Henriques, português, nasceu em 12/12/1877 na freguesia de São Domingos da Castanheira, lugar denominado Barsa, Diocese de Coimbra. Casado com D. Maria Elisa de tradicional família pereirense, mudou-se para Conchas em 1926 exercendo o cargo de prefeito em Pereiras, o que deu motivo para seus adversários políticos tentarem encerrar sua carreira política, não o conseguindo. Como Prefeito promoveu a troca em 1925 do Bº Baltazar, então território de Pereiras, pelo Bº da Estação de Pereiras pertencente à Conchas. Era letrado e como bom político carismático, simpático ao povo. Teve os seguintes filhos que herdaram a sua simpatia: Ermengarda, Suzana, Maria, Benedito, Vera, Lino e Afonso." (Nelson Malheiro - Livro "Em Busca de Raízes")


Na foto: Chico Silva, início déc. de 1920
 



Francisco Alves de Oliveira (Chico Silva)
Casado com Francisca Maria da Conceição Silva, foi um abastado boiadeiro. Antes do arrendamento do hotel, construiu uma bela casa na esquina das ruas Rio de Janeiro e Goiás, em frente ao Largo de Sta. Cruz (atual Praça Tiradentes), que, embora descaracterizada, ainda se encontra lá. Por ocasião de sua falência, em 1938, a casa foi entregue aos seus credores. Teve 5 filhos: Luiza (que durante muitos anos foi funcionária da prefeitura), Carmelina, Eufrosina, Filomena e Juvenal.